O Mistério do Caso de Campolide de Francisco Moita Flores
ISBN: 9789897800023
Edição ou reimpressão: 10-2018
Editor: Casa das Letras
Páginas: 288
Género: Policial e Thriller
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Bertrand
BookTrailer
Sinopse
1937. O Estado Novo chegou ao seu apogeu. No ano seguinte haverá eleições, e na casa do industrial Álvaro Penaguião celebra-se o convite para integrar as listas da União Nacional: um jantar no seu palacete em Campolide com um grupo de amigos, destacadas figuras do Regime.
A dada altura, o anfitrião sente-se indisposto e, instantes depois, está morto. Um dos presentes é médico e informa que o industrial foi fulminado por um enfarte. Mas na residência de Álvaro Penaguião houve quem achasse estranha aquela morte súbita, tendo chamado discretamente a PIC, a Polícia de Investigação Criminal.
O Agente Simão Rosmaninho olha o cadáver e não tem dúvidas de que está perante um homicídio. O Coronel Carolino, um dos directores da Polícia Política é um dos convivas e proíbe-o de fazer qualquer diligência que ponha em causa o veredicto clínico. No dia seguinte, Simão percebe que o seu Chefe já está industriado para obedecer aos desígnios da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado. Entalado entre ordens superiores e a convicção de que está perante um homicídio, o jovem detective começa a investigar.
Os primeiros resultados do Laboratório de Polícia Científica confirmam as suas suspeitas. E tudo se complica ainda mais quando, na mesma residência, passados alguns dias, ocorre um segundo homicídio. O Mistério do Caso de Campolide torna-se numa luta de poderes, e só os conhecimentos do colega de Simão, o Arengas, lhe permitem resolver os dois crimes.
Sobre o Autor
Francisco Moita Flores é reconhecido do público pela sua obra literária e pelo seu trabalho como dramaturgo para televisão, cinema e teatro. Tem uma vasta obra publicada e produzida; os romances: Mataram o Sidónio!, A Fúria das Vinhas, o Bairro da Estrela Polar, entre muitos, e séries : A Ferreirinha, o Processo dos Távora, Alves dos Reis, João Semana, Quando os Lobos Uivam.
Considerado pela crítica como o melhor argumentista do país, foi distinguido em Portugal e no estrangeiro pela qualidade da sua obra, foi condecorado pelo Presidente da República com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante pela carreira literária e pública.
Colaborador em vários órgãos como comentador tem marcado a sua intervenção pelo rigor e clareza com que aborda os temas da sua especialidade.
A Minha Opinião
Sem dúvida um dos melhores livros do ano…
Eu trouxe este livro da biblioteca e admito que estava um bocadinho reticente na leitura, porque não sabia até que ponto ia gostar do livro, meio que ando a enjoar thrillers, por isso antes de começar pensei que nem o ia terminar, mas não.
Vamos primeiro à história em si, situa-se em 1937, e acompanhamos o inspetor Simão Rosmaninho, pertencente à PIC, a Polícia de Investigação Criminal, que corresponde nos dias de hoje à Polícia Judiciária. Ele tem a fama de ser muito intelectual e de poucas palavras, mas todos sabem que é um excelente inspetor, senão o melhor.
O caso que nos é apresentado é a morte de Álvaro Penaguião, um recém integrante da União Nacional, e que na festa que a esposa dá para celebrar o momento, acaba por morrer. A Polícia é chamada, mas o trabalho de Simão está condicionado por estar a lidar com gente importante e que acha que está acima de todos.
Começa logo pelo facto de Simão querer que o corpo seja autopsiado, e o Coronel da Polícia Política, não deixar porque o médico da família disse que era morte natural, o corpo é mesmo removido da morgue antes de ir à faca. Simão não desiste, mesmo perante as ameaças do seu chefe que tem um medo gigante da polícia política.
Quando outra morte acontece, a coisa fica complicada, e a teia em que Simão está emaranhado não parece melhorar, à tantos suspeitos e ao mesmo tempo nenhum, mas é com uma mestria enorme que resolve o caso.
Desde já digo que adorei este livro, li-o de duas assentadas, e está nos meus livros nacionais preferidos e de policiais também. É fácil o leitor entrar na história mesmo sendo à tanto tempo atrás, porque muitas vezes nem damos pela diferença temporal. Claro que não há telemóveis, nem viaturas da polícia, armas é coisa que não se ouve falar e não acreditam muito num interrogatório sem pancadaria, algo que Simão se recusa a fazer.
Depois temos toda a questão social-política da época. O regime, a mente pequena das pessoas, pouco letrada e estou a falar da alta sociedade, que são tão bonitos e superiores aos olhos dos pobres, mas que pouco mais sabem além deles. A igreja e a forma como ela moldava as mentes, não de todos, mas havia quem visse num Padre uma espécie de Deus para aconselhar em tudo, e quando metemos os outros a pensar por nós, independentemente de quem seja, nunca dá bom resultado. O problema é que esta igreja era preconceituosa e intriguista.
Sem dúvida que o ponto de foco da história é o poder da Polícia Política, que intimida toda gente, na forma como a sociedade, até mesmo a outra polícia funciona. O que eles dizem é lei, senão o mais provável é acabarem mortos num beco. Todavia a pressão que é feita para que sejam culpados os alvos mais fáceis, ou que a investigação seja direcionada da maneira que mais lhes convém, não é daquele tempo. Há policiais recentes, como A Rapariga no Gelo do Robert Bryndza que tem a mesma situação. É infelizmente uma situação que ainda nos dias de hoje é recorrente e não deixa de ser vergonhoso.
Quanto ao final posso dizer que não adivinhei, mas muito sinceramente eu nem tinha opções para o culpado, podiam ser todos, e mais não posso dizer senão acabo por revelar. Mas gostei da forma como ele nos deixou a marinar até descobrir-mos tudo, mas acima de tudo do Simão, não é o protótipo de inspetor bonzão que se vê nos filmes e séries, é alto, desengonçado, reservado, só gostava de ter conhecido ainda mais dele, mas o autor deu-nos um cheirinho da sua vida, dos seus amores e temores, e fiquei com curiosidade para saber mais. Além disso, houve ali um momento na investigação que eu queria ver mais do trabalho e da mente do Simão, e não ser-nos meio que saltado essa parte…
Acho que era giro se o autor cria-se uma série de livros onde seguíamos o Simão, não se faz disso aqui em Portugal e era uma ótima oportunidade para haver mais policiais portugueses.
Em suma, recomendo aos fãs de policiais, acreditando mesmo que este está ao nível de muitos policiais internacionais e melhor até que alguns!
Classificação
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