A conversa de hoje é com uma das autoras da antologia de contos de terror Sangue, Maria Varanda. Participou de Sangue Novo (no mesmo registo desta nova antologia) e participou em vários cursos de escrita de terror. Convido-vos a conhecer melhor a Maria.

Desde já agradeço a sua disponibilidade para conversar comigo.
A Maria trabalha na área da saúde, como entrou a escrita sua vida?

Desde bastante nova que tenho um gosto especial pela leitura e pela escrita. Comecei a escrever contos e histórias de maior dimensão (novelas) por volta dos 14 anos — claro, histórias deploráveis a medíocres, mas na realidade é assim que se começa. No secundário tive a sorte de estudar numa escola que promovia a escrita criativa e tinha um concurso que se chamava “Conta um Conto”; concorri nos três anos de ensino e fui premiada em dois. Na realidade, a escrita sempre fez parte da minha vida, a área da saúde é que surgiu depois.

Participou da antologia de contos Sangue Novo em 2021. Como surgiu o convite e qual o seu primeiro pensamento quando o recebeu?

O convite veio a partir do Pedro Lucas Martins. Conheci-o no curso “Escrever Terror” da Escrever Escrever onde o Pedro é formador. Quando nos informou (aos escritores do Sangue Novo) o projeto que tinha em mente em achei seriamente que ele estava louco. Como assim, vai pegar em escritores que nunca publicaram nada na vida? Como assim ele acha que EU escrevo bem o suficiente para isto? Não sei o que hei de escrever… Ó meu deus, o meu conto vai ser uma porcaria.

Basicamente, síndrome do impostor, uma coisa é dizer que escrevemos contos de terror e outra coisa é alguém mostrar interesse em publicá-los. Andei uns tempos a achar que tinha sonhado tudo, depois a autossabotar-me. Depois, foi começar a trabalhar.

Participa novamente numa antologia de contos de terror, em 2022 em Sangue. Qual a maior dificuldade quando se escreve um conto?

Acho que para mim existem duas grandes dificuldades: uma é começar — como diz o Stephen King, o momento mais assustador é sempre antes de começar. Fico a ruminar as ideias, a ter dúvidas sobre a história e sobre a minha capacidade de escrevê-la. A outra grande dificuldade é o fim. E não é o fim da história, é terminar de escrever a história. Parar de fazer alterações e aceitar a história e o conto como são. Ficar satisfeita com o resultado final. Acho sempre que posso fazer melhor e isso atrasa a conclusão do trabalho.

Neste novo conto qual foi a sua inspiração para a criação do enredo?

Eu considero que estou um bocadinho na minha “fase aquática” da escrita. Acho que estou a sair dela agora. Os contos e histórias que me têm satisfeito mais acabam por ser, de uma forma ou outra, relacionado com água ou algo líquido. Isso acaba por remeter para o mar e a praia. A praia do Guincho é das minhas favoritas, pela violência selvagem que ela mantém mesmo estando rodeada de civilização. É na realidade parte de uma cena muito importante de um trabalho mais longo no qual estou a trabalhar. Mas a água e essa violência indomável conjugaram-se no ANFITRITE.

Participou em cursos de escrita de terror. Qual a maior lição que aprendeu lá?

A não parar de escrever. Nunca. Mesmo que achemos que não sai nada de bom do que escrevemos: podemos sempre editar uma má frase ou melhorar uma história menos boa, mas não podemos editar uma página em branco. Também aprendi muitas estratégias para superar aquilo que chamamos bloqueios de escritor e isso ajudou-me imenso. Mas a maior aprendizagem foi realmente que um escritor só se faz escrevendo muito.

O que a cativa em escrever no género de terror?

Essa é uma pergunta um bocadinho difícil de responder. Na realidade acho que é algo que está em mim. Encontrei-me como escritora (amadora ou não) quando me permiti a mim mesma só escrever terror. Escrever aquilo que me deixava feliz em vez de escrever o que os outros diziam ou que eu pensava que queriam ler. O género do terror permite-nos explorar muita coisa e não exclui a mistura de outros géneros e isso é maravilhoso. É um género completo, por si só uma arte.

Qual é o livro que considera ser o livro para da sua vida?

São tantos, mas acho que aquele que me marcou mais foi o The Shining do Stephen King. Foi o primeiro livro de terror que li e lembro-me do entusiasmo com que o li, das borboletas no estomago a cada página, do terror com que avançava pelas páginas. Lembro-me perfeitamente de terminar a leitura e pensar: é isto, é assim, que eu quero escrever.

Olhando para o panorama literário nacional qual é o/a autor/a que é para si uma referência? E porquê?

A nível nacional as minhas referências são na realidade muitos colegas meus da primeira antologia em que participei, o Sangue Novo. A Marta Nazaré e o seu terror infantil. O Francisco Horta pelo modo como escreve tão facilmente coisas horripilantes que uma pessoa fica surpresa cada vez que lê. A Liliana Duarte Pereira e o seu “terror de terrinha”, a Sandra Henriques, o Claúdio Martinho, a Patrícia Sá. Gosto sempre muito de tudo o que eles escrevem porque são mesmo bons escritores e tem sido inacreditável para mim vê-los evoluir como escritores e evoluir com eles.

E sem sombra de dúvida, o Pedro Lucas Martins para mim vai ser sempre aquele exemplo major a seguir; cada vez que leio (ou ouço) uma história dele fico agarrada até à última letra. Até ao ponto final.

Do género “quem leu o livro x gostará da Antologia Sangue”, que livros escolhia?

Abstenho-me desta resposta até poder ler todo o livro. Na realidade não nos foi dada a oportunidade, ainda, de ler os contos uns dos outros.

Por fim, o que nos pode contar sobre os seus projetos futuros?

Escrever, o meu projeto futuro é só continuar a escrever. Gostava muito de ter uma antologia só de contos meus publicada ou conseguir terminar o meu “romance” de terror e publicá-lo. Mas na realidade o meu projeto consiste em muito trabalho: escrever, escrever e escrever ainda mais.

Onde Pode conhecer mais sobre a autora

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