Francisco Horta, com quem será a conversa de hoje, aparece em último na antologia de contos de terror Sangue, publicada pela Trebaruna. Para mim é uma história muito macabra, para ele nem tanto. Cabe ao leitor julgar isso. Mas por agora convido-vos a conhecer melhor o autor.

Olá Francisco, desde já muito obrigada por me ceder esta entrevista.

Ora, eu é que agradeço a oportunidade, Liliana.

Como surgiu o seu gosto pela leitura e pela escrita?

O meu gosto pela leitura chegou tarde, por culpa própria, e diria que surgiu na transição entre a escola secundária e a faculdade. Embora já tivesse lido algumas coisas, foi quando percebi que nem todos os livros eram histórias amorosas mais do que previsíveis que comecei a interessar-me por ler. O gosto pela escrita surgiu no seguimento do anterior: ‘Quero ler uma história sobre x. Será que já há? Vou escrevê-la’.

Como surgiu o convite para participar na antologia de contos Sangue Novo e qual o seu primeiro pensamento quando o recebeu?

O convite para participar no Sangue Novo surgiu depois de finalizar um dos cursos de Escrever Terror, lecionados por Pedro Lucas Martins, na Escrever Escrever. O primeiro pensamento foi de entusiasmo, mas não durou muito tempo. Depressa foi substituído por receio e, até à versão final do conto, a cabeça flutuava entre os dois.

Participa novamente na antologia de contos Sangue. Qual o seu pensamento quando submeteu o seu conto?

As vozes que se sentam nas conchas das orelhas são sempre engraçadas. De um lado dizem ‘vá, envia o texto, está pronto’, do outro dizem, ‘não, por favor, não envies o texto, ainda não está perfeito’. E foi isso que aconteceu durante os dias em que tinha o texto terminado, mas hesitava em enviá-lo. Neste tipo de concursos, estás nas mãos da subjetividade do júri. O que, naturalmente, não tem mal nenhum, mas uma nega é uma nega, e ninguém quer ver o seu texto rejeitado.

O seu conto é intitulado de A Capoeira. Qual a sua inspiração para um enredo tão macabro?

A inspiração vem, na verdade, da vida das pessoas. Não é preciso ir longe para abrir um jornal e encontrar meia dúzia de histórias que potencialmente inspirem uma outra semelhante à que escrevi. E não sinto que o enredo seja assim tão macabro. É uma história de terror familiar, onde o mais importante é a metáfora.

Quando começou a escrever já tinha todo o enredo desenvolvido na sua cabeça, ou foi algo que fluiu à medida que escrevia?

Parte do enredo já estava bem delineado. Algumas vezes — esta história é exemplo disso —, antes de escrever no papel, vou criando a história na minha cabeça, e só depois escrevo o esqueleto. Quando já tinha o perfil das personagens definido, avancei para o rascunho da história, perguntando-me, ao longo do texto ‘como é que isto pode ficar pior’? Confesso que a grande curiosidade que tinha, e que ajudou a manter o texto interessante até ao terminar de o escrever, foi em saber como é que a personagem principal ia lidar com aquilo tudo. E depois deixei-a decidir. Não fiquei espantado.

Que livro (já publicado), gostaria de ter sido o Francisco a escrever?

Jerusalém, Gonçalo M. Tavares.

Do género “quem leu o livro x gostará da Antologia Sangue”, que livros escolhia?

Ainda não li os contos da antologia Sangue, mas diria que quem gostar destes textos gostará, seguramente, da antologia Sangue Novo — vários autores têm textos em ambos os livros.

Por fim, o que nos pode contar sobre os seus projetos futuros?

A curto prazo (até ao final de 2022), o objetivo é terminar um conjunto de textos e ter uma antologia pronta a editar. Depois, encontrar uma pessoa que os edite. E, por fim, tentar publicar.

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