Estamos neste momento em estado de emergência, e por isso em confinamento total pelo menos neste e no próximo fim de semana prolongado, e nada como uma boa conversa para passar o tempo. A desta semana é com mais um jovem autor. Natural de Vila Nova de Famalicão é licenciado em Línguas, Literaturas e Cultura. Em 2014, foi premiado no 1.º Concurso Internacional de Literatura da ALACIB, posteriormente e em 2018, venceu o Prémio Literário Germano Silva – Rotary Club de Penafiel, falo-vos de Jaime Soares, autor de “A Cor Verde” e “A Cor Vermelha”.

Olá Jaime, e desde já agradeço por me cederes esta entrevista. Como nasceu o seu gosto pela escrita?

Grato pelo interesse na minha escrita e pela oportunidade de mencionar o meu trabalho. O meu gosto pela escrita nasceu nas primeiras idas à biblioteca da escola onde pude descobrir, por volta dos 10 anos, títulos de livros infanto-juvenis como Uma Aventura, Detective Maravilhas, Arrepios, contos fantásticos, etc. Senti-me na minha praia. Achei que o silêncio e prazer proporcionados pela leitura (e pela biblioteca) me faziam crescer a vários níveis. As histórias ganharam uma poltrona na minha imaginação e deram-me a conhecer o papel fascinante do escritor. Da leitura à escrita, ou seja, do ato de vibrar com histórias de outros ao de criar os meus textos foi um passo óbvio. A escrita foi sempre um mistério e uma inevitabilidade, talvez.

“Acredito que o género “conto” é extraordinário devido à simplicidade e desafio com que se nos apresenta, a leitores e escritores. O efeito do conto é perdurar na mente de quem o lê ou ouve, como se o conto todo fosse uma espécie de refrão de um romance.”

Tem dois contos atualmente publicados. Porque enveredou por este género literário, e não escrever algo mais longo?

Por ora, tenho dois livros de contos: A Cor Verde (2018) e A Cor Vermelha (2020). Acredito que o género “conto” é extraordinário devido à simplicidade e desafio com que se nos apresenta, a leitores e escritores. O efeito do conto é perdurar na mente de quem o lê ou ouve, como se o conto todo fosse uma espécie de refrão de um romance. Cada palavra conta para o efeito e as nuances do texto. Penso que o conto me seduziu mais do que o romance também pela questão da brevidade, que, nos dias de hoje, vale ouro. Já pouca gente tem paciência para livros de 200 páginas, a não ser de escritores famosos. Já disse isto algures, o conto é uma espécie de monstrinho, de criatura que adora atenção. Ler um conto deve ser como andar numa montanha-russa, onde cada carril tem de estar bem posicionado.

Ambos os títulos são cores, A Cor Vermelha, e A Cor Verde. Há uma interligação entre ambos?

Sim. A meta: criar uma trilogia. Criar uma espécie de RGB (“Red, Green, Blue”, o sistema de cores usado na informática), explorando e dramatizando rituais e acções do quotidiano a partir de personagens perdidas em sistemas e hierarquias. Falta publicar A Cor Azul, ainda que a ordem das publicações tenha já sido alterada para um “GRB”. Atraiu-me, desde sempre, a ideia da arbitrariedade e dos significados das cores, da emoção e estética.

Como sentiu que foi acolhido o seu livro pelo público? 

Tem sido positivo, claramente positivo. Os leitores têm partilhado comigo as suas interpretações e ajudam na divulgação dos livros, seja de viva voz seja nas redes sociais. Creio que o suspense que atravessa os meus livros tem agradado às pessoas que me acompanham desde o início.

Ser um conto foi algo positivo ou por outro lado acabou por prejudicar?

Foi tudo uma aprendizagem. Tenho de dizer que foi positivo. Os leitores conheceram as histórias e descobriram-lhes significados vários, coisas diferentes a partir do mesmo enredo. É, para mim, um encorajamento o facto de alguns leitores desejarem, em breve, uma história mais longa. Vejo isto como um voto de confiança. Há leitores que querem passar ainda mais tempo com as minhas histórias, alegrando-se ao verem que o fim do livro não chegará tão cedo.

“Tem sido bom perceber o que cada um dos leitores assimila das obras, que passagem os toca mais, o que mudou na perceção deles. Guardo também fotografias muito criativas.” 

Hoje em dia muito se fala da literatura em Portugal, principalmente no que diz respeito ao pouco apoio para a publicação de autores nacionais. Como foi a sua jornada de publicação destas obras?

Concorri com A Cor Verde ao Prémio Literário Germano Silva – Rotary Club de Penafiel 2018. Tive a sorte e o mérito de conquistar esse prémio, que me garantiu a publicação da obra. Este tipo de concursos apoia os jovens autores e isso é bom. Funciona como rampa de lançamento, opção de mostra criativa. Entregando-me a uma estrutura já planeada, tive uma oportunidade única: apresentar A Cor Verde no festival Escritaria, em Penafiel, privar com um público leitor com o qual, sem essa ajuda, talvez nunca privasse, ser uma aposta da Editorial Novembro, ter meios e logística para apresentar o livro em alguns pontos do país…

A Cor Vermelha (atualmente na 2.ª edição), dois anos depois, saiu de novo pela Editorial Novembro. Continuaram a apostar em mim, fizeram sugestões ao texto, apoiaram a minha criação literária; e não lhes podia estar mais grato.  

Outro dos grandes dilemas por parte dos autores é a divulgação das suas obras. O Jaime teve uma presença forte nas redes sociais, principalmente no instagram. O que retirou dessa experiência? Acha que é um investimento que vale a pena?

Guardo conhecidos, amigos, fãs, partilhas e leituras, sobretudo. Tem sido bom perceber o que cada um dos leitores assimila das obras, que passagem os toca mais, o que mudou na perceção deles. Guardo também fotografias muito criativas. Há “bookgrammers” cheios de talento para criticar e fotografar os livros, e divulgá-los. Penso que estar perto dos leitores, usando as redes sociais, vale a pena, sim. A qualquer momento, pode cair ou calhar uma pergunta ou um comentário que nos faz ganhar o dia…

Qual foi a sua última leitura?

Este é o meu corpo, de Filipa Melo.

“A Cor Verde e A Cor Vermelha exploram temas como a esperança e decadência, o fulgor das paixões e magnetismo das violências. Há também uma carga erótica em situações do quotidiano que dão lugar a peripécias, nas quais a tecnologia dramatiza as ações das personagens.”

Se tivesse a oportunidade de fazer uma pergunta a um autor do qual é fã, o que perguntaria e quem seria o escolhido?

Perguntaria algo do género, “qual foi o momento mais surreal que teve numa sessão de autógrafos ou conferência?”. O escolhido teria de ser Don DeLillo.

Como convenceria uma pessoa a comprar os seus livros? Quais são as características que os
definem?

A melhor maneira de falar sobre esta questão é confessar que aprecio estar em público a referir passos e temas dos meus livros. Se aqueles que me ouvem, gostam e sentem necessidade de procurar os textos, ótimo. As obras é que podem convencer os leitores a passarem tempo com elas, por forma a conhecer-lhes todos os detalhes. 

A Cor Verde e A Cor Vermelha exploram temas como a esperança e decadência, o fulgor das paixões e magnetismo das violências. Há também uma carga erótica em situações do quotidiano que dão lugar a peripécias, nas quais a tecnologia dramatiza as ações das personagens. Representações de uma contemporaneidade fugidiça.

Por fim, quais são os seus projetos para novos livros?

Terminei há mais de dois meses A Cor Azul, que espero publicar em breve. E agora estou a escrever um romance (não muito extenso). A minha ideia é produzir um texto com mais marcas de autobiografia. Juntar à ficção mais experiências da minha própria vida. Encerrará questões sexuais, sociais e filosóficas. Espero que resulte muito catártico.

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