A conversa de hoje é com a Madalena Feliciano Santos, uma jovem escritora que já participou em vários concursos literários e workshops de escrita. Integrou a antologia de contos de terror “Sangue Novo” em 2021 e regressa com mais um conto nesta nova antologia “Sangue” em 2022.

Desde já agradeço a sua disponibilidade para conversar comigo, Madalena. Como entrou a escrita sua vida?

Olá! Eu sempre adorei ler. Lembro-me de ainda nem saber ler e já saber algumas histórias que a minha mãe me lia de cor, pegar nos livros e fingir lê-los. Tive uma professora de português no 5º ano que nos incentivava a escrever e que colava tudo aquilo que nós lhe quiséssemos dar com textos nossos na parede da nossa sala.

Adorava quando nos pediam para escrever textos criativos, ou escrever um texto a partir de um parágrafo inicial. Depois a partir do 7º ano, deixei a escrita um pouco de parte porque o lado criativo não era quase nada explorado na escola, e virei-me para outras coisas. Eu adorava, e adoro, aprender e sempre gostei de diferentes áreas, e estava ao mesmo tempo no conservatório em violino.

Mais tarde, no secundário, voltei a escrever através do Campeonato de Escrita Criativa do Pedro Chagas Freitas, que foi algo que adorei fazer. Mais tarde, em 2019, entrei para um curso de engenharia no ISEL que me fez perceber que não era nada daquilo que eu queria fazer.

Acabei por desistir no segundo semestre e foi aí que encontrei a Escrever Escrever e me inscrevi no curso Escrever Argumentos e Guiões, porque sempre foi algo que tinha interesse, mas sem qualquer expectativa a não ser querer experimentar algo novo. Adorei o curso, comecei a escrever mais, acabei um projeto que tinha começado no curso, e depois meses mais tarde queria fazer outro curso e foi aí que encontrei o Escrever Terror com o Pedro Lucas Martins, para o qual ia também com a mentalidade de experimentar algo novo (e porque tinha lido o Shinning do Stephen King no Verão, que me fez entrar no género de terror e que se tornou um dos meus livros favoritos nessa altura!). Foi a partir daí que comecei a escrever mais, que encontrei o género no qual mais gosto de escrever, e aqui estou!

Participa na antologia de contos de terror, em 2022, Sangue. Qual a maior dificuldade quando se escreve um conto?

Para mim a minha maior dificuldade quando escrevo um conto é ter uma ideia que me faça ter de escrever o conto. Porque eu não costumo planear a história, e a partir do momento em que tenho uma ideia que não me saia da cabeça escrevo aquilo que a história me levar a escrever. E para mim é muito difícil escrever sem ter uma imagem específica que não me sai da cabeça. Mas até isso acontecer, muitas vezes tenho de me obrigar a escrever, e esses nunca são os meus contos favoritos.

No seu conto O Homem do comboio qual foi a sua inspiração para a criação do enredo?

Bom, este conto foi escrito a partir de uma ideia que me surgiu quando estava no metro a ir para a faculdade. Estava a ouvir música e lembro-me de pensar “E se estivesse um alguém no metro todos os dias a olhar fixamente para mim, mas cada dia ia-se aproximando mais, como se me quisesse dizer alguma coisa?”. Depois escrevi nas notas do telemóvel “sombra de homem de fato no metro a olhar para mim”.

Foi uma ideia que me ficou na cabeça e que quando mais tarde li o regulamento do concurso da Trebaruna para uma Antologia com o tema “sangue”, pensei em moldar a ideia ao tema.

Participou em cursos de escrita. Qual a maior lição que aprendeu lá?

Concursos de escrita são muito subjetivos. Se um escritor escreve algo que realmente gosta e em que realmente acredita, mas não ganha, ou não passa, ou não vê o texto e o seu trabalho serem reconhecidos não quer dizer que o texto não seja bom, que seja mau escritor.

Se calhar se fosse outro júri tinha sido diferente, ou não. Se calhar o texto não estava realmente na sua melhor versão e tem ainda espaço para melhorar e talvez numa próxima vez seja diferente. Honestamente o concurso que mais gostei de participar foi o que já referi, do Pedro Chagas Freitas, porque havia uma opção em que podíamos pedir a revisão dos nossos textos, aquilo que o júri mais gostou e menos gostou e o que podíamos melhorar, e decidir por nós o que fazer com esses comentários, com essa perspetiva.

Mas maior parte das vezes não há essa opção, e temos de ser capazes de olhar para o nosso texto e pensar no que fazer, se melhorar, se largar, se usar a ideia para outro projeto, ou até reescrever noutra perspetiva. Ou não fazer nada.

O que a cativa em escrever no género de terror?

O que eu gosto mais de escrever dentro do terror é o lado mais de terror psicológico. Perguntar sobre a natureza de certas ações, por exemplo, como em O Homem do Comboio.

No meu primeiro conto publicado, Sonhei com uma Linha Vermelha, é mais a pergunta sobre o real, o que é real, que mundo é que é real, o que pode ser real, ou se estará tudo a acontecer na imaginação da personagem principal, até que ponto é que há uma fronteira entre o real e o não real, se a há. São perguntas deste género que gosto de explorar, não só quando sou eu a escrever, mas também ao ler ou ver algum filme/série.

Qual é o livro que considera ser o livro para da sua vida?

Não sei bem se consigo responder a esta pergunta. O meu livro favorito está sempre a mudar, e tenho sempre dificuldade em escolher só 1 porque adoro pensar sobre cada livro como algo único, histórias que me tocaram por características específicas que mudam de livro para livro.

Mas um livro para a minha vida, posso dizer o livro que já disse em cima, o Shinning, porque foi o livro que me fez querer escrever terror, mudou de alguma forma a forma como olho para terror, que me fez querer entrar e explorar terror psicológico.

Olhando para o panorama literário nacional qual é o/a autor/a que é para si uma referência?
E porquê?

Eu adoro Saramago. Estou longe de ter lido a obra toda dele. Mas o que gosto mais nos seus livros é a forma como explora as ideias e as desenvolve. Uma premissa como “e se a partir de hoje mais ninguém morresse”, ou “e se toda a gente cegasse” ou até “e se houver um homem igualzinho a mim com uma vida completamente diferente da minha”.

São talvez coisas que se calhar quase toda a gente já tinha pensado, e Saramago consegue desenvolvê-las de uma forma em que ninguém pensou. É isso que eu gosto, pegar em algo, colocar o “e se” e desenvolver de uma forma diferente, particular, única.

Mas dentro do género de terror, tenho sempre de referir Pedro Lucas Martins, que, para além de ter sido meu professor no curso de Escrever Terror, escreve no género e tem realizado projetos para promover obras de terror nacional ao lado de outros autores.

Do género “quem leu o livro x gostará da Antologia Sangue”, que livros escolhia?

Eu conheço muitos dos autores que integram esta antologia, e sei que maior parte dos contos são no género terror, mas ainda não tive oportunidade de ler o livro todo, por isso não consigo responder a esta pergunta neste momento.

Por fim, o que nos pode contar sobre os seus projetos futuros?

Bom, eu neste momento ainda estou na faculdade, continuo a escrever mas não tenho nenhum projeto futuro assim planeado.

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