Regresso com mais uma entrevista, desta vez ao Sérgio Godinho, natural de Figueiró dos Vinhos, usa a sua terra natal como influência para os seus livros, mas não só de escrita se faz um Godinho, foi também responsável pela organização do TEDxFigueiroDosVinhos, o primeiro evento TEDx Standard numa vila ibérica e é também estudante de psicologia. Com dois livros já editados em Portugal, convido-vos a conhecer o Sérgio. 

Olá Sérgio, desde já muito obrigada por me concederes esta entrevista. Qual é para ti a palavra que melhor te define?

Antes de mais, deixa-me agradecer-te pelo interesse. É um prazer falar contigo. Quanto a uma palavra que me defina… Tenho a certeza de que cada pessoa que me conhece escolheria uma diferente.

Quando é que se iniciou o teu gosto pela escrita?

Diria que foi aos meus quinze anos que tive uma tímida demonstração do que estaria para vir. Recordo-me de ter começado a escrever uma estória, mas abandonei-a após 15/20 páginas.

Qual é o papel da mesma na tua vida?

A escrita é o hobby que me vai levar à ruína.

Porque achas que te vai levar à ruína?

Porque não importa quantos livros publique ou quantas vendas faça… Estarei sempre insatisfeito. À procura do que vem depois. No que diz respeito à escrita, o presente nunca me será suficiente.

No teu primeiro livro, Vita Apparatus, abordas a questão da clonagem e da mente humana. Quais foram as tuas inspirações para este enredo?

Eu formei-me em psicologia. Digo-te isto porque Vita Apparatus foi inspirado pela psicanálise, vertente psicoterapêutica com a qual eu nem sequer me identifico, cuja prática é perigosa e devia ser proibida. Mas voltemos ao livro… Ao estudar a psicanálise, a separação entre ego, superego e id fascinou-me de um ponto de vista ficcional. A ideia original era ter um personagem diferente a representar cada componente. A estória acabou por sair desses moldes e focar-se no dilema moral da clonagem humana e da singularidade do indivíduo. 

Já no teu segundo livro, 7 FACTOS, em que um homem acorda sem saber onde está, quem é, e apenas tem um papel com 7 supostos factos sobre si. Mais uma vez uma realidade bem alternativa. Como seria para ti estar no lugar deste homem, se te visses num local estranho, com total amnésia?

É uma excelente pergunta porque um dos meus objetivos foi colocar o personagem a optar por algumas decisões que eu nunca tomaria. Acredito que eu teria tido uma abordagem mais apaziguadora, talvez até mais meditativa. Mais não digo.

Além disso abordas também o despovoamento do interior de Portugal, sendo natural de lá, qual é o sentimento de ver a tua terra natal a ficar despovoada?

O desagrado é tanto que me fez escrever um livro sobre isso. Tendo estudado em Braga, na ponta norte do país, era rara a pessoa que conhecia com a habilidade de localizar a vila no mapa. Isso doía-me. O que podia eu fazer? Remoer sobre o problema nada mudaria. Queixar-me a outros muito menos. A minha maneira de lidar com o despovoamento, em certo ponto o esquecimento, foi arranjar pretextos para tentar inverter a situação. 

Qual seria na tua opinião uma dessas formas de tentar inverter a situação?

Começava sempre por servir de professor. Explicava onde era, mostrava fotos e até fiz com que alguns lá fossem passar férias. Num âmbito mais global, acredito que a transição laboral que estamos a viver pode ser a salvação do interior. A cada dia que passa existem menos motivos para as empresas se terem de sediar numa grande cidade. E não esquecer que as novas tecnologias facilitam a que o trabalhador não necessite de estar no local onde a empresa tem o escritório. Ora bem, se for possível ter a evolução profissional que se pretende sem ter de se sacrificar a qualidade de vida, porque haveria alguém de o fazer?

Este ano, com as restrições devido ao COVID-19, tanto de viagens para o exterior, como das praias, será uma oportunidade para o interior?

Não vejo o interior como uma personagem oportunista desta crise. Creio que, a acontecer, será como um subproduto da pandemia. Mas, claro, o interior irá agradecer o investimento que for feito na região, que bem necessita dele.

Qual o livro para ti de referência que se passe no interior português?

O meu, pela mudança que quer trazer para a região.

Se tivesses a oportunidade de jantar com um escritor, qual escolherias? E que lhe perguntas lhe farias?

O escritor seria George R. R. Martin e não fazia pergunta alguma. Passava a refeição a negociar os termos necessários para que ele acabe a saga “Crónicas de Gelo e Fogo.” Se fosse necessário, até lhe preparava o almoço e o jantar durante o tempo que ele precisasse.

A publicação através da Amazon não é muito comum em Portugal, ou contrário, por exemplo, no Brasil. Como está a ser a experiência?

Já publiquei usando três métodos distintos: as vanity publishers, publicação de autor autónoma e a Amazon KDP. Não querendo fazer publicidade, a Amazon é a melhor experiência que tive até ao momento.

É um misto entre os outros dois, com vantagens adicionais. O investimento inicial é nulo, adotando um sistema de print-on-demand, e qualquer pessoa pode comprar o livro sem que eu tenha de servir de intermediário.

Eu contratei uma designer para me ajudar com o indesign e a capa, mas podia nem o ter feito, visto que a Amazon tem serviços gratuitos para responder a essas necessidades. O único senão é ter a certeza de que não verei os livros nas prateleiras das livrarias. Tirando isso, é impecável.

Qual é a característica que é necessária para se conseguir ser escritor em Portugal?

Ler. Saber falhar. Resiliência. Conseguir manter-se inocente o suficiente para acreditar que um dia será profissional. Ler. Paixão pela escrita. Viajar. Provar novas comidas. Ler. Visitar museus. Ter amigos, animais de estimação incluídos. Ir ao cinema. Já disse ler?

Qual a principal vantagem e desvantagem de ser um autor independente?

Não sou autor independente por opção, mas por necessidade. Se pudesse ser publicado de forma tradicional… bem, abandonava a independência no dia em que me fizessem a proposta. O mercado nacional é restrito. Fechado. A qualidade dos manuscritos deixou de ser o critério fundamental. A recusa mais frequente que ouço é “o livro não é comercial” o que significa na verdade “o teu nome não é conhecido”. 

Respondendo à questão, diria que a principal vantagem de ser autor independente é controlar todo o processo de como o teu escrito chega às pessoas. A principal desvantagem é o curto alcance que tem.

Por fim, quais são os teus projetos para novos livros?

Após a publicação, o livro torna-se público e deixa de me pertencer. Mas até lá é só meu.

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