Hoje conversamos com Patrícia Sá, uma escritora de contos que participou nas duas antologias “Sangue Novo” (2021) e “Sangue” (2022), e que já tem mais projetos em cima da mesa. Convido-vos a conhecer melhor a Patrícia nesta breve entrevista!

Olá Patrícia, desde já muito obrigada por me ceder esta entrevista.

Olá, Liliana, muito obrigada pelo convite.

Como surgiu o seu gosto pela escrita?

Sempre tive um amor muito grande pela escrita. Em pequena, estava sempre a inventar histórias para as minhas brincadeiras. Por volta dos dez anos ocorreu-me que podia escrever todas essas ideias. Foi assim que comecei a fazer os meus primeiros esboços. Gostava muito da ideia de escrever uma saga de fantasia épica, dedicava muito tempo a cada personagem, a cada universo e depois nunca escrevia a história. Estive algum tempo sem escrever por causa da escola e inseguranças pessoais. Até que decidi que queria voltar a escrever e, mais do que isso, queria aprender ferramentas para encontrar e aperfeiçoar o meu estilo.

Foi assim que descobri os cursos da Escrever Escrever e, mais precisamente, o curso Escrever Terror do Pedro Lucas Martins. Aprendi e evolui imenso não só com ele, mas também com os meus colegas, que me ajudaram a dar valor à minha escrita. É nesta altura que considero que me descobri enquanto escritora e, também, para minha surpresa, escritora de terror.

Como disse, sempre me vi na área da fantasia, mas esta etapa da minha vida fez-me reavaliar tudo o que pensava saber acerca de mim e dei-me conta de que o terror tem um lugar muito importante na minha escrita.

Participou da antologia de contos Sangue Novo em 2021. Como surgiu o convite e qual o seu primeiro pensamento quando o recebeu?

O Pedro Lucas Martins desafiou-me a escrever um conto de terror para uma antologia composta por novos autores portugueses. Nem pensei por um segundo recusar, mas estava muito, muito insegura e nervosa. E se não fosse boa o suficiente? Nunca consegui terminar nada, como me poderia comprometer a escrever um conto para ser publicado? E a verdade é que procrastinei durante bastante tempo. Além disso, as minhas responsabilidades da faculdade não me deixavam muito tempo livre.

Houve um dia que escrevi um conto inteiro, quase de uma vez. Tinha uma ideia muito clara e experimentei um estilo diferente — uma carta. Acabei o primeiro rascunho no dia seguinte e fiquei muito orgulhosa de mim. Afinal, era possível. Escrevi outro, um pouco mais longo, já em prosa. Novamente, senti esse orgulho por ser capaz de terminar uma história e de conseguir finalmente dar corpo às imagens na minha cabeça que estão sempre a pedir para serem escritas.

O Pedro tinha-nos dito que poderíamos enviar até três contos para, depois, escolhermos qual o mais adequado para a antologia. Faltava-me um. Este foi muito mais difícil de sair. Sempre quis fazer uma história sobre uma casa assombrada. Estava a ler sobre algumas criaturas do imaginário português e andava a ponderar o tipo de história em que as poderia usar. Foi então que, numa noite, me lembrei da casa onde passei muitas férias na infância, na aldeia onde os meus avós cresceram. A casa é grande, muito antiga, e sempre me avivou a imaginação. O cenário da história estava escolhido antes de dar por isso.

A minha intenção, desde o início, era escrever uma história de uma casa assombrada, como disse. No entanto, quando dei por mim, estava a escrever um conto de memórias. Acabou por ficar com alguns pormenores mais próximos de mim do que estou habituada a que as minhas histórias tenham. Mas foi por isso mesmo que eu e o Pedro escolhemos “Amor” para integrar o Sangue Novo. Não é difícil para o leitor identificar-se com a personagem principal. Além disso, escrever um conto de amor para uma antologia de terror tem a sua graça.

E participa novamente na nova antologia, escrevendo um conto intitulado de Sangue e Cinzas. Qual ao seu pensamento quando soube que tinha sido selecionada para participar?

Fiquei muito feliz! Sem palavras mesmo. Acima de tudo, fiquei muito orgulhosa, pois o “Sangue e Cinzas” é dos contos que mais me orgulho de ter escrito até hoje.

Como surgiu a ideia para este conto?

A Trebaruna estava a anunciar um concurso de escrita para uma antologia com o tema “sangue”. Não vou para o terror de propósito; é quase instintivo, já. E como as regras não excluíam géneros literários, deixei-me pensar livremente na história que gostaria de contar.

Na altura, andava a ler uma das obras que estou a estudar para a minha dissertação de mestrado — La Madre de Frankenstein, de Almudena Grandes — e estava, também, a ver a série It’s Okay to Not Be Okay, de Jo Yong e Park Shin-woo. Ambas têm uma coisa em comum: uma figura maternal doentia, orientada por ideais que a afastam da realidade. Pensei que a minha história teria de ter sangue, logo, um assassinato. Qual teria sido a causa desse assassinato? Que tipo de mundividência orientaria essa pessoa? E se fosse um artista, a quem a maioria das pessoas atribui uma certa sensibilidade? E uma mulher? Uma mãe? Nasceu a personagem da Glória Flores.

No entanto, rapidamente apercebi-me de que talvez houvesse outra história mais merecedora de ser contada: a da filha, Lúcia. O conto é introspetivo e quiçá mais metafórico. Uma das coisas que adoro é explorar a dimensão psicológica das personagens e adorei conceber este mundo interior da Lúcia.

O que a atrai na escrita de um conto?

Nunca tinha pensado em escrever contos antes do curso Escrever Terror. Estava convencida de que tinha de escrever um romance longo. Mas quando comecei a escrever contos, senti-me em casa. Acho que o que mais me atrai é a possibilidade de ver terminada uma ideia, com princípio, meio e fim. Claro que certas ideias precisam de mais desenvolvimento. Gostava de, um dia, conseguir escrever algo mais extenso, mas, por agora, a escrita de contos ajuda-me a ver o fundo do túnel com mais clareza.

Já publicou algum livro? Mesmo que com outro nome?

Apenas o Sangue Novo, nenhum em nome próprio, ainda.

Acha que o autor escreve para si ou para quem o lê? Ou seja, qual é o seu objetivo quando está a escrever?

Acho que, acima de tudo, se deve escrever para si mesmo. Escrever a história que se gostaria de ler. Agradar a todos é impossível. Se a minha história provocar alguma reação positiva noutra pessoa, ótimo. Significa que não estou sozinha.

Do género “quem leu o livro x gostará da Antologia Sangue”, que livros escolhia?

Apesar de não ter lido ainda toda a Antologia Sangue, conheço a escrita dos autores que me acompanharam no Sangue Novo. Por isso, quem gostou do Sangue Novo, de certeza que gostará de ler novas histórias destes autores. Além disso, diria que a Rua Bruxedo da Imaginauta pode ser uma referência a considerar, pois engloba uma variedade de géneros literários que nem sempre se encontra em Portugal, mas que não deixa de existir. No caso do Sangue, podem contar com terror.

Por fim, o que nos pode contar sobre os seus projetos futuros?

Vou ter outro conto, “Guias do Mar”, publicado no Almanaque Steampunk de 2022, editado pela Divergência. Foi aquele primeiro conto em estilo de carta que mencionei no início da entrevista. Além disso, gostava de terminar, até ao final deste ano, a dissertação de mestrado e dedicar-me à minha carreira académica e literária.

Tenho em mente um projeto para uma antologia de contos em nome próprio, mas não sei quando a poderei começar. De resto, vou continuar ativa na Fábrica do Terror e a participar em projetos que promovam a criação de terror em Portugal.

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